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Vol. 19. Issue 3.
Pages 139-140 (May - June 2013)
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Vol. 19. Issue 3.
Pages 139-140 (May - June 2013)
Carta ao Editor
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Mycobacterium tuberculosis, quanto tempo passeaste?
Mycobacterium tuberculosis, how long did you walk?
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V. Areiasa,
Corresponding author
vandareias@hotmail.com

Autor para correspondência.
, I. Nevesb, A. Carvalhoc,e, R. Duartec,d,e,f,g
a Serviço de Pneumologia, Hospital de Faro, Faro, Portugal
b Serviço de Pneumologia, Hospital de São João, EPE, Porto, Portugal
c Centro de Diagnóstico Pneumológico de Vila Nova de Gaia, Vila Nova de Gaia, Portugal
d Centro de Referência de Tuberculose Multi-resistente da Região Norte, Vila Nova de Gaia, Portugal
e Serviço de Pneumologia, Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia, Vila Nova de Gaia, Portugal
f Faculdade de Medicina, Universidade do Porto, Porto, Portugal
g Instituto de Saúde Publica, Universidade do Porto, Porto, Portugal
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A tuberculose (TB) permanece um importante problema de saúde pública. Em 2010, verificou-se uma incidência a nível mundial de 8,8 milhões e uma mortalidade de 1,4 milhões1.

O diagnóstico e início da terapêutica precocemente é crucial para um programa de controlo da TB eficaz. O atraso no diagnóstico aumenta o risco de morte e de transmissão de TB na comunidade2.

O objetivo do nosso trabalho foi determinar o tempo decorrido desde o início dos sintomas até à primeira observação por um profissional de saúde e o tempo desde a primeira observação por um profissional de saúde e o diagnóstico.

Foi concebido um questionário e aplicado a todos os doentes com tuberculose ativa, seguidos no Centro de Diagnóstico Pneumológico (CDP) de Vila Nova de Gaia, nos meses de Maio a Junho de 2012. Os dados foram complementados por consulta do processo clínico.

Durante o período de estudo foram incluídos 54 doentes, 37 (68,5%) do género masculino, com uma média etária de 48,5±14,2 anos.

O diagnóstico foi realizado por rastreio de sintomas em 50 doentes (92,6%), no decurso da investigação de alterações radiológicas em 3 doentes (5,6%) e por rastreio de contatos num doente (1,8%).

O primeiro local de saúde a que os doentes se dirigiram para serem observados foi: 20 doentes (37%) ao Serviço de Urgência, 17 doentes (31,5%) ao médico assistente, 9 doentes (16,7%) a uma consulta hospitalar, 3 doentes (5,5%) a uma consulta privada, 3 doentes (5,5%) ao CDP e 2 doentes (3,7%) a uma farmácia.

O tempo médio desde o início dos sintomas e a primeira observação por um profissional de saúde foi de 37±47 dias. Em média o doente foi a 3,2 consultas até ser realizado o diagnóstico de TB.

Os doentes com sintomas de anorexia e emagrecimento, em média, demoraram mais tempo a dirigirem-se ao médico do que os restantes (53,5 versus 18,5 dias, p=0,01 e 51,7 versus 12,1 dias, p=0,002, respetivamente).

Não foi observada uma associação entre o atraso no diagnóstico e as seguintes variáveis: género, idade, nível educacional, toxicodependência e infeção pelo vírus de imunodeficiência humana.

Dos 50 doentes com sintomas, 25 demoraram menos do que 15 dias a serem observados por um profissional de saúde e os restantes demoraram mais do que 15 dias. Os doentes que demoraram menos do que 15 dias a procurarem um profissional de saúde, foram principalmente ao Serviço de Urgência (48%), enquanto os doentes que demoraram mais do que 15 dias foram observados principalmente por um clínico geral (52%, p=0,027).

O tempo médio desde a primeira consulta e o diagnóstico foi de 56±87 dias (mínimo: um dia, máximo: 512 dias). Os doentes com sintomas respiratórios tiveram em média um diagnóstico mais rápido do que os restantes (37,9 versus 127 dias, p=0,013).

Em 21 doentes o diagnóstico foi realizado num tempo inferior a 15 dias. Na maioria dos doentes em que o diagnóstico foi realizado em menos do que 15 dias, estes foram, na sua maioria, observados inicialmente no Serviço de Urgência (57,1%). No grupo de doentes em que o diagnóstico demorou mais do que 15 dias, estes foram observados principalmente pelo clínico geral (39,4%, p=0,026).

O tempo médio desde o início dos sintomas e o diagnóstico foi de 92±103 dias (mínimo: 3 dias, máximo: 559 dias).

No nosso estudo observámos uma elevada demora desde o início dos sintomas e o doente ser observado pela primeira vez por um profissional de saúde. Em países subdesenvolvidos/em desenvolvimento esta demora é em média de 31,7 dias e nos países desenvolvidos de 25,8 dias3,4. No nosso estudo obtivemos uma demora média semelhante aos países subdesenvolvidos/em desenvolvimento.

Observámos um atraso inaceitável entre a primeira observação por um profissional de saúde e o diagnóstico. O tempo médio descrito em países subdesenvolvidos/em desenvolvimento é de 28,4 dias (2-87 dias) e em países desenvolvidos é de 21,5 diash (7-36 dias)3,4. No nosso estudo obtivemos uma demora superior à descrita na literatura.

Estes resultados sugerem a necessidade de rever/implementar estratégias no sentido de ser realizado um diagnóstico mais precoce da TB. O atraso no diagnóstico da TB vai ter influência na dinâmica de transmissão e prevenção da TB.

Por outro lado, é importante realizar programas educacionais para a população, para que os doentes reconheçam os sintomas de TB e procurem um profissional de saúde mais precocemente.

Responsabilidades éticasProteção de pessoas e animais

Os autores declaram que para esta investigação não se realizaram experiências em seres humanos e/ou animais.

Confidencialidade dos dados

Os autores declaram que não aparecem dados de pacientes neste artigo.

Direito à privacidade e consentimento escrito

Os autores declaram que não aparecem dados de pacientes neste artigo.

Autoria

Raquel Duarte e Vanda Areias desenharam o estudo. Vanda Areias elaborou a primeira versão do artigo. Vanda Areias e Inês Neves recolheram os dados. Raquel Duarte e Aurora Carvalho reviram o artigo.

Conflitos de interesse

Os autores declaram não haver conflito de interesses.

Bibliografia
[1]
World Health Organization (WHO). Global tuberculosis control, WHO report 2011. 2011 [consultado 11 Dez 2012]. http://www.who.int/gtb/publications
[2]
M. Maior, R. Guerra, M. Cezar, J. Golub, M. Conde.
Tempo entre o início dos sintomas e o tratamento de tuberculose pulmonar em um município com elevada incidência da doença.
J Bras Pneumol, 38 (2012), pp. 202-209
[3]
C.T. Sreeramareddy, K.V. Panduru, J. Menten, J. van den Ende.
Time delays in diagnosis of pulmonary tuberculosis: A systematic review of literature.
BMC Infect Dis, 9 (2009), pp. 91
[4]
A. Machado, R. Steffen, O. Oxlade, D. Menzies, A. Kritski, A. Trajman.
Fatores associados ao atraso no diagnóstico da tuberculose pulmonar no estado do Rio de Janeiro.
J Bras Pneumol, 37 (2011), pp. 512-520
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