As aderências pleurais podem complicar a realização da pleurodese por toracoscopia. Os autores decidiram realizar este estudo para determinar os factores preditivos da formação e extensão das aderências pleurais e do sucesso da pleurodese em doentes submetidos a toracoscopia e talcagem.
Os doentes submetidos a toracoscopia no Georgetown University Medical Center entre Agosto de 1995 e Março de 2002 foram estudados retrospectivamente. Os autores registaram o n.° de toracenteses, a duração do derrame, a malignidade, a origem doença subjacente, a existência de irradiação torácica, a presença e extensão das aderências pleurais e o sucesso da pleurodese. Foram estudados 89 doentes que tinham todos estes dados registados.
Numa análise global, só os derrames pleurais que tinham uma duração superior a 5 meses têm um valor preditivo na formação das aderências (p=0,037) e extensão das mesmas (p=0,038). No grupo dos derrames pleurais malignos com uma duração superior a 5 meses este aspecto também tem um valor preditivo na formação (p=0,020) e extensão (p=0,037) das aderências. No grupo particular dos derrames pleurais secundários ao cancro da mama, a duração superior a 5 meses também tem um valor preditivo na formação (p=0,008) e extensão (p=0,011) das aderências pleurais.
A regressão estatística determinou que a duração dos derrames superior a 5 meses é neste estudo o único factor preditivo na formação das aderências pleurais e que não existem factores preditivos do sucesso da pleurodese. A duração do derrame pleural, independentemente da sua etiologia, está associada à formação de espessas aderências pleurais, particularmente naqueles que tem uma duração superior a 5 meses.
COMENTÁRIONos EUA, 1,5 a 2 milhões de doentes por ano tem um derrame pleural. Cerca de 1/3 são secundários a insuficiência cardíaca e 20% estão relacionados com pneumonias bacterianas. Quinze a 40% são derrames pleurais malignos e, destes, cerca de 30% a 40% são secundários ao cancro do pulmão e 25% ao cancro da mama.
A rentabilidade da citologia do líquido pleural (50% a70%) e das biópsias pleurais (39% a 75%) não é satisfatória. Estes factos levam a considerar a toracoscopia o exame indicado nos derrames pleurais sem diagnóstico, pois permite a visualização directa das superfícies pleurais e a realização das biópsias directamente. A toracoscopia permite também realizar a insuflação de talco e a pleurodese.
A presença de aderências pleurais dificulta a realização da toracoscopia. A efectividade da pleurodese é diminuída porque as aderências cobrem parcialmente a pleura visceral e a pleura parietal, dificultando a sua aderência.
A referência na literatura que a produção de citocinas inflamatórias, a subsequente formação de fibrina e a eventual formação de aderências pleurais, estão relacionadas com o número de toracenteses realizadas previamente à toracoscopia e que poderão afectar o êxito da pleurodese, é um dos aspectos que levou os autores a realizarem este estudo.
Os resultados contrariaram em parte estes conceitos. Os autores constataram que a formação das aderências e a sua extensão estavam em parte relacionadas com a gravidade da doença subjacente e com a duração do derrame pleural. Não conseguiram estabelecer relação entre número de toracenteses e a formação de aderências assim como com o êxito ou não da pleurodese.
Estatiscamente, só conseguiram estabelecer como factor preditivo da formação e da extensão de aderências a duração do derrame pleural quando superior a 5meses. Em relação aos factores preditivos do sucesso da pleurodese, neste estudo os autores não conseguiram estabelecer; contudo, não foram analisados os valores do pH do líquido pleural que é considerado em algumas séries como factor preditivo (pH <7,20 é um sinal de insucesso da pleurodese).
A existência de aderências pleurais não é um factor directo de insucesso da pleurodese, mas como dificulta a realização da toracoscopia e da eventual talcagem é sempre um aspecto a considerar no êxito da toracoscopia/talcagem.
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