O correcto estadiamento do cancro do pulmão é fundamental, não só na determinação do prognóstico mas também na orientação terapêutica.
A avaliação da extensão tumoral ao mediastino, por invasão directa ou metastática ganglionar, é um dos passos deste estadiamento. A TAC torácica é falível na detecção de metástases ganglionares, sendo o exame anatomopatológico mais fidedigno. Das várias técnicas de punção e biópsia, o método transbrônquico tornou-se uma rotina em diversos centros, sendo contudo a sua sensibilidade variável (técnica cega).
Os autores descrevem um novo método de diagnóstico de lesões sólidas, incluindo gânglios mediastínicos e hilares através de ecografia endoscópica transbrônquica com biópsia aspirativa guiada em tempo real.
Onze doentes com idade média de 58 anos foram submetidos a esta técnica: 3 com o diagnóstico de cancro do pulmão e suspeita de metástases ganglionares mediastínicas; 4 com suspeita de recorrência de tumor com metástases ganglionares; 3 com metástases ganglionares mediastínicas e hilares de etiologia desconhecida e um com suspeita de metastização ganglionar de cancro da mama. Todos os doentes tinham previamente efectuado broncofibroscopia que foi inconclusiva.
O broncofibroscópio (BFC) ecográfico utilizado foi um protótipo criado pela Olympus, com uma sonda endoscópica na extremidade distal e com um grau de penetração em profundidade de 5cm e um ângulo de varredura de 50º. Os doentes realizaram o exame sob anestesia geral, com introdução do BFC através de um tubo orotraqueal.
A endoscopia foi efectuada em contacto directo com a parede brônquica e, ao localizar a lesão, a agulha de aspiração era introduzida através do canal de trabalho com visualização endoscópica directa da inserção e da biópsia.
Quize lesões com dimensões de 7 a 80mm foram puncionadas, sem registo de complicações, identificandose células malignas em 13 e células benignas em 2 lesões. Com base nestes achados, 8 doentes foram submetidos a quimioterapia, 1 submetido a pneumectomia, 1 a mastectomia e 1 a toracotomia exploradora que revelou carcinoma do esófago inoperável.
O novo protótipo de BFC utilizado, além de manter um melhor estadiamento T e N do tumor, consegue em simultâneo realizar endoscopia e biópsia ou punção aspirativa. Com esta técnica conseguiuse o diagnóstico em todos os casos, sempre com repercussão na opção terapêutica e sem necessidade de recorrer a exames mais invasivos. O objectivo deste estudo foi exactamente verificar se este método é exequível, o que foi cumprido, tendo como futura intenção realizálo com anestesia local, para o diagnóstico de lesões sólidas adjacentes aos brônquios e traqueia e estadiamento ganglionar. Os autores referem a necessidade de uma experiência mais alargada e de estudos comparativos com a punção aspirativa transbrônquica convencional e a mediastinoscopia.
COMENTÁRIOA TAC torácica detecta algumas situações que afastam a hipótese de cirurgia curativa no cancro do pulmão, nomeadamente a invasão da artéria pulmonar ou da parede do ventrículo esquerdo, mas não é muito sensível na detecção de pequenas metástases ganglionares que podem tornar o doente inóperavel. A tomografia emissora de positrões (PET) é mais sensível na detecção de metástases, contudo também possui limitações, apresentando 25% de falsos positivos a nível ganglionar mediastínico e 31% nas lesões à distância. A necessidade de obtenção de tecido ganglionar é pois relevante para o diagnóstico, estadiamento e decisão terapêutica.
O diagnóstico e estadiamento do cancro do pulmão pode ser difícil de obter por broncofibroscopia. A mediastinoscopia é o exame mais utilizado na obtenção de tecido ganglionar do mediastino, sendo porém um exame invasivo e não isento de riscos. Deste modo, um exame minimamente invasivo na obtenção de biópsias, como a aspiração com agulha transbrônquica (TBNA), tem vindo a ganhar importância, particularmente quando associada a ecografia endoscópica para localização mais precisa das lesões. A TBNA em conjugação com o escovado endobrônquico, o lavado e as biópsias por fórceps, aumenta significativamente o diagnóstico do tumor. A endoscopia endobrônquica só nos últimos anos tem despertado o interesse como meio de localização de lesões sólidas adjacentes à árvore brônquica e gânglios mediastínicos e hilares.
Apesar destas vantagens, da sensibilidade e do baixo número de complicações, a TBNA ainda é uma técnica pouco utilizada. Por exemplo, nos Estados Unidos apenas 11,8% dos broncologistas a utilizam no diagnóstico de lesões malignas, sendo portanto necessário um maior investimento e treino nesta área. Este estudo, no fundo, vem reforçar os bons resultados obtidos através da biópsia transbrônquica, especialmente se guiada por ecografia endoscópica, revelando a experiência com um novo protótipo de broncofibroscópio que acopla ecografia e permite visualizar ao vivo as biópsias, não existindo para já nenhum aparelho deste tipo disponível comercialmente.
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