Apesar dos avanços nas técnicas de ventilação não invasiva, a traqueostomia continua a ter indicação em crianças com perturbação grave da via aérea ou com necessidade de ventilação prolongada. Sendo um procedimento de execução fácil, não é isenta de riscos, pelo que se justifica sempre a ponderação prévia de alternativas à decisão de traqueostomizar.
Foram objectivos deste estudo a identificação das crianças traqueostomizadas com seguimento num serviço de pediatria de hospital terciário, a caracterização da doença primária e indicações conducentes à decisão de traqueostomizar e a avaliação das complicações registada neste grupo de doentes.
Procedeu-se à revisão dos processos clínicos das dezasseis crianças traqueostomizadas, com uma mediana de idade à data da realização da traqueostomia de 4,5 meses, cinco com doença neuromuscular, três com paralisia cerebral e sete com doença pulmonar ou das vias aéreas. A indicação para a traqueostomia foi a necessidade de ventilação invasiva prolongada em doze casos, estenose subglótica ou traqueal em três e laringomalacia num outro. As complicações mais frequentes foram a colonização bacteriana persistente, a descanulação transitória acidental e a obstrução transitória da cânula. Verificou-se um óbito relacionado com a traqueostomia. Nove crianças mantêm traqueostomia, cinco foram descanuladas (uma das quais veio a falecer) e outras duas faleceram ainda com traqueostomia.
Tal como sublinhado na literatura, as crianças e adolescentes traqueostomizados têm habitualmente patologias múltiplas que exigem apoio multidisciplinar. A complexidade das situações clínicas e a exigência de recursos determinam a necessidade de acompanhamento em centro especializado de referência.
Rev Port Pneumol 2009; XV (2): 227-239
Despite advances in non-invasive ventilation techniques, tracheostomy is still indicated in children with serious airway obstruction or with the need for long-term ventilation. Alternatives should be studied before deciding to tracheostomise as complications exist, despite the simple procedure.
The aims of this study were the identification of tracheostomised children followed in a tertiary care paediatric department, the characterisation of primary disease, the indications leading to tracheostomy and any complications.
We present a case review of tracheostomised children followed in our department.
Sixteen tracheostomised children were followed, median age of 4.5months, neuromuscular disease – 5, cerebral palsy – 3 and pulmonary or airway disease – 7. Indications were long-term invasive ventilation – 12, subglottic or tracheal stenosis – 3 and laryngomalacia – 1. The most frequent complications found were persistent bacterial colonisation, accidental decannulation and obstruction. There was a tracheostomy-related death in 1 child. Outcome: 9 children maintained tracheostomy, 5 were successfully decannulated and 2 children died while on tracheostomy.
Tracheostomised children usually have complex disease that requires a multidisciplinary team and should be followed-up at a specialised reference centre.
Rev Port Pneumol 2009; XV (2): 227-239
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