As exacerbações da DPOC são frequentes e associam-se, usualmente, a um agravamento da situação clínica de base.
O objectivo do presente trabalho foi identificar a diferente probabilidade de um indivíduo sofrer uma exacerbação da sua doença, bem como se o efeito do corticosteróide inalado na agudização é influenciado pelo grau de gravidade da DPOC.
Foi efectuado em estudo randomizado, duplamente cego, com um grupo de controlo placebo, com a duração de 3 anos, envolvendo 18 hospitais do Reino Unido.
Os doentes foram divididos em dois grupos segundo os critérios de gravidade da American Thoracic Society para a DPOC: Ligeira, (FEV1 pós-broncodilatador≥50%do previsto); Moderada/Grave (FEV1 pós-broncodilatador<50%do previsto).
A exacerbação foi definida como um problema torácico requerendo tratamento com antibióticos e/ou corticosteróides orais.
Foram englobados 751 indivíduos fumadores e ex-fumadores com idades compreendidas entres os 40 e os 75 anos com o diagnóstico de DPOC. Constituíram critérios de exclusão: doentes com asma; aumento do FEV1>10%após inalação de 400μg de salbutamol; FEV1 pós-broncodilatador<0,8l; patologia concomitante condicionando uma esperanla de vida<5 anos.
Dos 751 indivíduos randomizados, 376 foram submetidos a 500μg de propionato de fluticasona 2 vezes por dia, administrado através de inalador pressurizado doseável, e 375 a placebo. Os dados demográficos foram, na generalidade, sobreponíveis, existindo apenas 2 pequenas diferenças: número significativamente superior de homens com DPOC ligeira do que moderada/grave (85 versus 65 %, p<0,0001); número de maços/anos mais elevado neste último grupo (47 versus 41 %, p<0,01).
Durante o 1.º ano de tratamento, 227 doentes do grupo propionato de fluticasona (61%) e 237 do grupo placebo (64 %) tiveram pelo menos uma exacerbação. O tempo médio para a ocorrência da 1.ª agudização foi de 136 dias no grupo de controlo e de 164 dias no grupo submetido ao fármaco em questão, não sendo a diferença estatisticamente significativa.
Foram avaliados 391 (195 sob propionato de fluticasona) doentes com DPOC ligeira e 359 (180 sob propionato de fluticasona) doentes com DPOC moderada/grave. A taxa de exacerbações foi muito reduzida no 1.º grupo. Verificou-se também que a administração de propionato de fluticasona diminuiu o número de agudizações na doença moderada/grave (1,47/ano; placebo 1,75/ano, p<0,022), mas não na DPOC ligeira (0,67/ano; placebo 0,92/ano, p=0,45). A utilização do referido fármaco foi associada a um número reduzido de doentes com≥1 exacerbações/ /ano tratados com corticosteróides orais (DPOC ligeira: PF 8%– placebo 16 %; DPOC moderada/ /grave: PF 17%– placebo 30 %).
A taxa de exacerbações foi significativamente menor no grupo sob propionato de fluticasona quando comparada com a do grupo placebo (p<0,001).
COMENTÁRIOA redução do número de agudizações da DPOC é um importante objectivo de tratamento desta patologia e tem sido alvo de inúmeras guidelines terapêuticas. Nos doentes tratados com propionato de fluticasona, a taxa de exacerbações foi reduzida quando comparada com a do grupo placebo. No entanto, este efeito verificou-se, apenas, nos doentes com maior obstrução das vias aéreas, já que a diferença não foi estatisticamente significativa nos doentes ligeiros.
Nem todas as exacerbações foram tratadas com corticóides orais. Metade dos doentes com DPOC moderada/grave recebeu, pelo menos, um curso de corticoterapia, em comparação com um terço de indivíduos com doença ligeira. A razão não é clara no presente estudo, mas é possível que se prescreva mais rapidamente corticosteróides orais em doentes com maior limitação de fluxo aéreo ou naqueles que apresentem crises mais graves.
Doente com DPOC ligeira têm, em média,<1 exacerbação/ano, enquanto nas situações moderadas/graves se observa≥1,5 exacerbações/ -ano, sendo≥3 exacerbações em um quarto dos casos. Durante o período de 3 anos não houve agudizações em 16%dos indivíduos com DPOC moderada/grave sob placebo e em 29%dos casos de doença ligeira.
O presente estudo revela que o propionato de fluticasona reduz a incidência de exacerbações graves (necessidade de hospitalização), mas não afecta o tempo que decorre até à primeira agudização.
Em conclusão, esta análise revelou que as exacerbações são mais frequentes na DPOC moderada/grave, um quinto dos quais requer tratamento com antibióticos e corticosteróides orais. Verifica-se, também, que a administração de propionato de fluticasona reduz significativamente a taxa de exacerbações na DPOC e a necessidade de corticoterapia oral no decurso das mesmas, sendo este efeito particularmente relevante nos doentes com DPOC moderada/grave.
Assim, os doentes com DPOC moderada/grave e história de exacerbações recorrentes parece serem os que mais beneficiam desta terapêutica, como é preconizado pela Global Initiative for Chronic Obstructive Lung Disease (GOLD).
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