Desde que o omalizumab foi aprovado pela Food and Drug Administration, em 2003, o tratamento da asma alérgica grave não voltou a ser o mesmo. Este anticorpo monoclonal humanizado liga-se seletivamente à IgE, impedindo a sua interação com o recetor Fc¿RI (recetor de alta afinidade para a IgE) presente na superfície dos mastócitos e basófilos. Deste modo, é prevenida a libertação de mediadores inflamatórios1. A sua utilização está indicada no tratamento complementar da asma alérgica grave não controlada por corticoides inalados (CI).
Gostaríamos de partilhar a experiência gratificante com o omalizumab no Centro Hospitalar da Cova da Beira (CHCB). Assim, avaliámos retrospetivamente os seus efeitos em termos de controlo clínico da asma, função pulmonar, necessidade de recurso aos serviços de saúde e necessidade de doses elevadas de CI e beta-agonistas de longa ação (BALA) inalados. Em 15 doentes sujeitos ao tratamento com omalizumab, verificámos um aumento estatisticamente significativo do volume expiratório forçado no primeiro segundo (FEV1) médio (de 62,3% antes da administração de omalizumab para 77,4% após 4 a 6 meses e para 80,75% após 10-12 meses de tratamento), do controlo da asma segundo o teste de controlo da asma (40% dos doentes «parcialmente controlados» e 47% «totalmente controlados» após 4 a 6 meses e 40% dos doentes «parcialmente controlados» e 60% «totalmente controlados» após 10-12 meses de tratamento), para além de uma diminuição estatisticamente significativa do número médio de internamentos (0,56/ano para 0,0/ano) e dos episódios de urgência por crise de asma (1,01 para 0,14 episódios/ano). Não se verificaram alterações das doses de CI e de BALA inalados.
Os benefícios verificados nestes doentes observados no CHCB eram espectáveis, atendendo aos resultados dos numerosos estudos realizados previamente, que consistentemente demonstraram uma associação significativa entre a administração de omalizumab e a melhoria clínica e a diminuição da necessidade de medicamentos antiasmáticos, assim como do número de internamentos, consultas não programadas e episódios de urgência2. Além disso, diversos estudos demonstraram que o tratamento complementar com omalizumab apresenta uma boa relação custo-benefício em doentes com asma alérgica grave persistente3,4.
Em conclusão, acreditamos que o custo da terapêutica com omalizumab não deve constranger a sua utilização nos casos indicados. As decisões devem basear-se numa perspetiva de médio a longo prazo, tendo presente que os doentes com indicação para omalizumab que dele não beneficiam necessitarão, provavelmente, de cuidados de saúde adicionais, acarretando, deste modo, gastos evitáveis.
Responsabilidades éticasProteção de pessoas e animaisOs autores declaram que para esta investigação não se realizaram experiências em seres humanos e/ou animais.
Confidencialidade dos dadosOs autores declaram ter seguido os protocolos do seu centro de trabalho acerca da publicação dos dados de pacientes e que todos os pacientes incluídos no estudo receberam informações suficientes e deram o seu consentimento informado por escrito para participar nesse estudo.
Direito à privacidade e consentimento escritoOs autores declaram ter recebido consentimento escrito dos pacientes e/ou sujeitos mencionados no artigo. O autor para correspondência deve estar na posse deste documento.
Conflito de interessesOs autores declaram não haver conflito de interesses.