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Vol. 9. Issue 1.
Pages 83-85 (January - February 2003)
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Vol. 9. Issue 1.
Pages 83-85 (January - February 2003)
AS NOSSAS LEITURAS/OUR READINGS
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Cessação tabágica em doentes com neoplasia do pulmão tratados para a dependência nicotínica.
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L.S. Cox, C.A. Patten, J.O. Ebbert, A.A. Drews, G.A. Croghan, M.M. Clark, T.D. Wolter, P.A. Decker, R.D. Hurt
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RESUMO

A manutenção dos hábitos tabágicos em doentes com neoplasia do pulmão está associada a uma menor sobrevivência, desenvolvimento de um segundo tumor primitivo e um maior risco de desencadear ou exacerbar outras patologias, como sejam a DPOC, doença vascular periférica, cardiopatia isquémica e úlcera péptica.

Também as formas major de tratamento oncológico (quimioterapia, radioterapia) produzem um maior número de complicações e morbilidade entre os doentes fumadores. Apesar disso, pouca atenção tem sido dada à cessação tabágica nos doentes neoplásicos.

O objectivo do presente estudo foi avaliar a taxa de abstinência tabágica ao fim de 6 meses em indivíduos com tumor do pulmão submetidos a tratamento da dependência nicotínica e comparar os resultados obtidos com os observados num grupo controlo.

Foram englobados 402 fumadores seguidos no Mayo Clinic Nicotine Dependence Center (NDC) entre Abril de 1988 e Março de 2000, dos quais 201 apresentavam a neoplasia mencionada. O grupo controlo podia incluir indivíduos com tumores de outros órgãos ou sistemas, bem como outras patologias relacionadas com o tabaco. Todos tinham fumado (cigarros, cachimbo, charutos) nos 6 meses que antecederam a terapêutica em causa.

A intervenção NDC envolveu uma equipa especializada na dependência nicotínica e compunha-se de múltiplas vertentes: comportamental, psicológica, aditiva, farmacológica e preventiva (nomeadamente das recidivas). As sessões tinham uma duração de 45 a 60 minutos segundo um plano individual, tendo em atenção as necessidades específicas, estadio de mudança e nível de dependência nicotínica. Usualmente, envolvia estratégias comportamentais para controlo de sintomas de abstinência e situações de alto risco. A terapêutica farmacológica foi utilizada frequentemente na ausência de contra-indicações. O follow-up efectuou se ao 1.º, 3.º e 6.º meses.

Inicialmente, o doente respondia a um questionário extenso e completo sobre dados demográficos e hábitos tabágicos que incluía o Teste de Dependência Nicotínica de Fagerströn.

O grau de motivação e de intenção para deixar de fumar definem o estadio de mudança. Segundo Prochaska e Goldstein existem 5 estadios: Pré-Contemplação — não pensa deixar de fumar nos próximos 6 meses; Contemplação — considera abandonar os hábitos tabágicos nos próximos 6 meses; Preparação — planeia deixar de fumar nos seguintes 30 dias e escolhe a data; Acção — pára de fumar.

Foram analisados os dados referentes à neoplasia pulmonar, nomeadamente, estadio, grau, histologia e data do diagnóstico, bem como à existência de outros tumores, DPOC, doença vascular periférica, patologia coronária, diabetes, depressão major, alcoolismo e toxicofilia.

A determinação de existência ou não de abandono do tabagismo baseou se nos critérios da Society for Research on Nicotine and Tobacco Subcomunittee on Abstinence Measures. Considerou-se que os indivíduos que não foi possível contactar mantinham os hábitos tabágicos.

Globalmente, houve um predomínio da raça branca (97,2%) e do sexo masculino (56,7%). Os doentes com tumor do pulmão eram mais velhos (p<0.01) e tinham mantido o tabagismo por um período de tempo superior (p<0.001), apesar da idade de início ser sobreponível. O 1.º grupo apresentava um maior grau de motivação (p=0.003) e um estadio de mudança mais avançado (p=0.002) sendo, no entanto, o número de tentativas prévias de abandono inferior (p=0.023). Estes doentes possuíam, com maior frequência, outras neoplasias (p<0.001).

77% dos indivíduos com tumor do pulmão foram observados nos 3 meses após o diagnóstico inicial, sendo o tipo histológico predominante o tumor de não pequenas células (89%). A maioria (93%) eram potencialmente ressecáveis (estadios I, II e III).

O grupo com neoplasias encontrava se num estadio de mudança mais evoluído que o grupo controlo. A abstinência foi de 7,7% nos estádios de pré-contemplação e contemplação, 22% no estadio de preparação e 28,1% no estadio de acção. A cessação tabágica foi superior nos indivíduos com o diagnóstico de tumor há menos de 3 meses (27,3%) quando comparadas com os doentes com neoplasia do pulmão conhecida entre 3 a 6 meses (0%) e há mais de 6 meses (7,0%). De salientar que os doentes portadores de patologia vascular periférica e tumor pulmonar apresentavam uma taxa de abandono mais elevada (36,7% versus 19,9%, p=0.042). Verificou-se, também, uma maior probabilidade de permanecerem em abstinência ao fim de 6 meses.

Após o ajuste para a idade, sexo, número de cig/dia (últimos 6 meses) e estadio de mudança, não houve evidência de diferença estatisticamente significativa na taxa de cessação tabágica de ambos os grupos.

COMENTÁRIO

Cox e colegas evidenciaram a eficácia da intervenção terapêutica na desabituação tabágica de doentes com tumor do pulmão. Um dos méritos do referido estudo é o elevado número de indivíduos avaliados e a caracterização dessa população.

No entanto, é de referir que se trata de um grupo previamente seleccionado para o tratamento em causa, o que poderá significar que corresponde a indivíduos com maior dificuldade em abandonar os hábitos tabágicos, elevada motivação ou comorbilidade psiquiátrica importante.

Embora diversos elementos da comunidade científica apresentem alguma apreensão na aplicação desta estratégia terapêutica durante uma fase de elevada ansiedade para o doente, é inequívoca a maior eficácia da cessação tabágica nos primeiros 3 meses após ser conhecido o referido diagnóstico. Nestes indivíduos, é possível atingir uma motivação significativa e um estadio de mudança mais avançado.

Estes resultados desafiam os responsáveis pela terapêutica oncológica a investir no tratamento de dependência nicotínica dos referidos doentes. Apesar do elevado grau de dependência, da menor motivação no passado e grande carga tabágica (≥40 cig/dia 53% versus 38%), verificou se uma taxa da cessação tabágica sobreponível à do grupo de controlo. Após decorridos 6 meses de intervenção, é fundamental o acompanhamento psicológico para prevenir as recidivas sendo preponderante o papel da família nesta luta. O Lung Cancer Study Group verificou diversos benefícios imediatos entre os indivíduos com tumor de não pequenas células ressecado no passado: melhoria da capacidade respiratória; diminuição da dispneia, tosse e expectoração; aumento do apetite; melhoria do olfacto, paladar e da auto estima.

Este estudo não permite, no entanto, analisar o resultado de abstinência nicotínica na resposta à terapêutica oncológica, bem como na morbilidade secundária ou mortalidade. Uma das limitações do estudo em análise consistiu na ausência de confirmação bioquímica da abstinência. Não foram, também, discriminadas as diferentes medidas terapêuticas aplicadas a cada indivíduo.

Os resultados prometedoras da trabalho de Cox e colaboradores devem encorajar a inclusão da intervenção na dependência nicotínica na terapêutica dos doentes com neoplasia do pulmão.

Palavras chave:
Tumor do pulmão
fumador
dependência nicotínica
abstinência tabágica
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BIBLIOGRAFIA
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PESTANA E, MENDES B. Tabagismo, 25 perguntas frequentes em Pneumologia: p. 23 26.
Copyright © 2003. Sociedade Portuguesa de Pneumologia/SPP
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