O reconhecimento da eficácia de um broncodilatador na DPOC deve incluir o registo dos volumes pulmonares, que fornecem informação acerca da hiperinsuflação e, consequentemente, da dispneia. É reconhecido que após a administração de um broncodilatador as alterações do VEMS não reflectem necessariamente alterações do grau de dispneia, podendo este parâmetro funcional não demonstrar o potencial benéfico de um fármaco na DPOC.
As modificações da Capacidade Inspiratória (CI) demonstraram já uma melhor correlação com a dispneia e intolerância ao esforço, em relação a outros parâmetros espirométricos, pois reflectem modificações da hiperinsuflação.
O tiotrópio é um anticolinérgico que antagoniza de forma prolongada o receptor muscarínico M3, proporcionando uma melhoria clínica e funcional em doentes com DPOC. Este estudo randomizado, duplamente cego, com controlo de placebo, pretendeu avaliar as alterações da CI em repouso e dos volumes pulmonares após administração a longo prazo do tiotrópio.
A população estudada de 81 doentes com DPOC (62% do sexo masculino; 72% ex-fumadores), com idade superior a 40 anos (idade média de 64 anos), apresentava um valor basal médio de VEMS de 1,12l (43% do previsto). Nas 3 visitas efectuadas (0, 2 e 4 semanas), o VEMS, a capacidade vital forçada e lenta, a CI e o volume de gás intratorácico foram determinados antes da administração do tiotrópio (–60 e –15 minutos) e após a toma da droga (30, 60, 120 e 180 minutos). Verificaram-se diferenças estatisticamente significativas nos grupos tiotrópio/placebo em relação ao VEMS, capacidades vitais, CI e volume de gás intratorácico. Neste estudo, a redução do volume de gás intratorácico foi similar ao obtido aos 3 e 6 meses após cirurgia de redução de volume pulmonar.
Os autores concluem que o tiotrópio melhora não só parâmetros espirométricos, mas também reduz a hiperinsuflação (e desde logo a dispneia), ajudando a compreender melhor o impacto dos broncodilatadores na DPOC.
COMENTÁRIOA espirometria continua a ser considerada o estudo funcional respiratório essencial para o diagnóstico e determinação da gravidade da DPOC. A maioria dos trabalhos relacionados com a utilização de broncodilatadores na DPOC elege o VEMS como o principal parâmetro funcional avaliador da eficácia do fármaco.
Este estudo, para além da espirometria, pretendeu determinar o beneficio do tiotrópio na Capacidade Inspiratória e hiperinsuflação pulmonar em doentes com DPOC grave. Os resultados vieram reforçar a opinião prévia de vários autores de que o VEMS, apesar de ser um parâmetro útil, não reflecte a melhoria clínica de tolerância ao esforço e dispneia demonstrada por várias drogas.
A CI é o parâmetro que mais se correlaciona com a dispneia, um dos sintomas mais relevantes na DPOC.
O tiotrópio em estudos prévios já tinha demonstrado uma melhoria de vários parâmetros espirométricos e este estudo vem demonstrar uma redução da hiperinsuflação pulmonar e dispneia em doentes com DPOC. Já estudos prévios com o ipatrópio e salbutamol referiam um aumento da tolerância ao esforço e dispneia, independentes da variação ou não do VEMS.
Outra informação interessante apresentada neste estudo é da melhoria funcional obtida com o tiotrópio ser sobreponível à obtida com a cirurgia de redução de volume pulmonar. No entanto, talvez a mensagem principal deste trabalho seja o facto de o VEMS não ser suficiente para avaliar todo o potencial benéfico de um broncodilatador na DPOC e de que outros parâmetros funcionais, nomeadamente a CI poderão constituir uma mais valia na avaliação destes doentes.
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