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Vol. 10. Issue 6.
Pages 510-512 (November - December 2004)
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Vol. 10. Issue 6.
Pages 510-512 (November - December 2004)
REVISTA PORTUGUESA DE PNEUMOLOGIA/AS NOSSAS LEITURAS
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Melhoria da sobrevida em não fumadores versus fumadores com adenocarcinoma primitiva do pulmão
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Luke T. Nordquist, George R. Simon, Alan Cantar, W. Michael Alberts, Gerold Bepler
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RESUMO

Historicamente, o adenocarcinoma do pulmão é o subtipo histopatológico mais comum nos indivíduos não fumadores. Contudo, actualmente, nos Estados Unidos constitui também o tipo histopatológico mais frequente nos fumadores, tendo a sua incidênia aumentado de 20% do total de neoplasias do pulmão para 40% nos últimos 20 anos. A razão deste aumento não é conhecida, sendo considerados como factores possíveis as alterações dos hábitos tabágicos e seus constituintes, de factores ambientais como os asbestos, poluição atmosférica, exposição a radiações, entre outras.

O tratamento de todos os subtipos de carcinoma pulmonar de não pequenas células é semelhante, independentemente da histologia, género e factores de risco, como o tabagismo, e é, primariamente, determinado pelo estadio. Surgindo o adenocarcinoma nos indivíduos não fumadores sem a presença dos factores promotores cancerígenos do fumo do cigarro, pode-se pensar que o mecanismo de carcinogénese do adenocarcinoma é diferente nos fumadores e nos não fumadores. Mecanismos distintos implicam diferenças na biologia tumoral, características demográficas e sobrevivência. Os autores do presente estudo comparam as características e sobrevida dos indivíduos fumadores e não fumadores com adenocarcinoma do pulmão, tendo em atenção que este é o subtipo de CPNPC mais frequente neste segundo grupo. Diferenças nas características e sobrevida poderão sugerir que a génese, história natural e biologia tumoral do adenocarcinoma é distinta nos dois grupos de doentes. A compreensão dessas diferenças poderá ser utilizado para melhorar o prognóstico e opções terapêuticas.

Foram estudados doentes seguidos no Lee Moffitt Cancer Center entre 1985 e 2000 com o diagnóstico histopatológico de adenocarcinoma primitivo do pulmão (ou carcinoma bronquíolo-alveolar). As variáveis demográficas examinadas prospectivamente foram a idade na altura do diagnóstico, estadio de apresentação, sexo, tipo histológico, hábitos tabágicos e número de diferentes locais de metastisação. Os ex-fumadores (abstinência > 1 ano na altura do diagnóstico) foram excluídos. A sobrevida foi avaliada desde a data do diagnóstico até à data da morte ou data em que o doente foi observado pela última vez, tendo sido a mortalidade especificamente relacionada com o tumor e as mortes desencadeadas por causas não neoplásicas, como sejam EAM, AVC, acidente de viação, analisadas separadamente. Um total de 141 não fumadores com adenocarcinoma primário foram registados no referido período, tendo sido excluídos 7 doentes por ambiguidade do estadiamento e 2 por história de tabagismo no passado. Foram identificados 542 fumadores, dos quais 20 foram eliminados por estadiamento pouco claro.

Verificou-se uma percentagem estatisticamente superior de mulheres na categoria de não fumadores 78% versus 54% (p<0,0001). A idade média na altura do diagnóstico foi superior nesse grupo (63,5 anos versus 59,4 anos) e estatisticamente significativa (p=0,0005). O estadio de apresentação foi sobreponivel nos 2 grupos, sendo o número de carcinomas bronquíolo-alveolares superior na categoria de não fumadores 24% versus 10% (p=0,0009). Observou-se, também, uma diferença estatisticamente significativa na sobrevida aos 5 anos entre os fumadores e não fumadores 16% vs 23% (p=0,004). A sobrevida especificamente relacionada com o tumor foi de 28% vs 22% (p=0,018) no referido período.

O tabagismo foi identificado com um factor prognóstico independente e negativo da análise multivariável.

Assim, apesar da presença de variáveis de bom prognóstico em maior número, como sejam o sexo feminino e o tipo histopatológico bronquíolo-alveolar no grupo de não fumadores, esta condição constitui um factor preditivo independente estatisticamente significativo na análise.

COMENTÁRIO

Muitos componentes do fumo do tabaco têm um papel relevante na carcinogénese do tumor do pulmão.

Desta forma, na ausência de hábitos tabágicos, existe um mecanismo alternativo na carcinogénese e, desta forma, na história natural da biologia do tumor. Este estudo demonstrou que os indivíduos não fumadores com adenocarcinoma primitivo do pulmão tendem a ser mais velhos, predominantemente do sexo feminino, sendo o subtipo mais frequente o carcinoma bronquíolo-alveolar. A sobrevida foi significativamente maior nos não fumadores. No entanto, a análise multifactorial demonstrou que os hábitos tabágicos constituem um factor preditivo independente nessa melhoria. Para tentar avaliar a influência de comorbilidade na sobrevivência, foi analisada a sobrevida específica relacionada com o tumor e esta foi significativamente superior nos não fumadores.

A melhoria da sobrevida nos doentes não fumadores com neoplasia do pulmão já tinha sido demonstrada em estudos efectuados por Capewell e Perrot. Este último verificou, também, que a sobrevida era superior no sexo feminino, independentemente da idade, presença de sintomas, hábitos tabágicos, histopatologia e estadio da doença. Numerosos estudos parecem demonstrar que a maior susceptibilidade para o tumor do pulmão nos fumadores está relacionada com uma predisposição genética. Quando a incidência da neoplasia do pulmão é avaliada nos familiares de fumadores com este tumor, verifica-se um aumento do risco de 40 a 87% no agregado familiar. Apesar de o gene major para a susceptibilidade para este tumor ainda não ter sido identificado, constatou-se que o grupo de enzimas glutatião-S-transferase está envolvido na patogénese do referido tumor.

Conclui-se, assim, que as diferenças observadas na carcinogénese, factores demográficos, comportamento tumoral e sobrevida entre os fumadores e não fumadores com adenocarcinoma poderão condicionar uma investigação deste grupo histopatológico como uma entidade distinta. A sua melhor compreensão poderá permitir o desenvolvimento de estratégias terapêuticas específicas.

Palavras-chave:
Carcinoma pulmonar não pequenas células
adenocarcinoma
não fumadores
fumadores
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BIBLIOGRAFIA
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Chest 2004; 126: 347 - 351

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