A tuberculose (TB) permanece um importante problema de saúde pública. Em 2010, verificou-se uma incidência a nível mundial de 8,8 milhões e uma mortalidade de 1,4 milhões1.
O diagnóstico e início da terapêutica precocemente é crucial para um programa de controlo da TB eficaz. O atraso no diagnóstico aumenta o risco de morte e de transmissão de TB na comunidade2.
O objetivo do nosso trabalho foi determinar o tempo decorrido desde o início dos sintomas até à primeira observação por um profissional de saúde e o tempo desde a primeira observação por um profissional de saúde e o diagnóstico.
Foi concebido um questionário e aplicado a todos os doentes com tuberculose ativa, seguidos no Centro de Diagnóstico Pneumológico (CDP) de Vila Nova de Gaia, nos meses de Maio a Junho de 2012. Os dados foram complementados por consulta do processo clínico.
Durante o período de estudo foram incluídos 54 doentes, 37 (68,5%) do género masculino, com uma média etária de 48,5±14,2 anos.
O diagnóstico foi realizado por rastreio de sintomas em 50 doentes (92,6%), no decurso da investigação de alterações radiológicas em 3 doentes (5,6%) e por rastreio de contatos num doente (1,8%).
O primeiro local de saúde a que os doentes se dirigiram para serem observados foi: 20 doentes (37%) ao Serviço de Urgência, 17 doentes (31,5%) ao médico assistente, 9 doentes (16,7%) a uma consulta hospitalar, 3 doentes (5,5%) a uma consulta privada, 3 doentes (5,5%) ao CDP e 2 doentes (3,7%) a uma farmácia.
O tempo médio desde o início dos sintomas e a primeira observação por um profissional de saúde foi de 37±47 dias. Em média o doente foi a 3,2 consultas até ser realizado o diagnóstico de TB.
Os doentes com sintomas de anorexia e emagrecimento, em média, demoraram mais tempo a dirigirem-se ao médico do que os restantes (53,5 versus 18,5 dias, p=0,01 e 51,7 versus 12,1 dias, p=0,002, respetivamente).
Não foi observada uma associação entre o atraso no diagnóstico e as seguintes variáveis: género, idade, nível educacional, toxicodependência e infeção pelo vírus de imunodeficiência humana.
Dos 50 doentes com sintomas, 25 demoraram menos do que 15 dias a serem observados por um profissional de saúde e os restantes demoraram mais do que 15 dias. Os doentes que demoraram menos do que 15 dias a procurarem um profissional de saúde, foram principalmente ao Serviço de Urgência (48%), enquanto os doentes que demoraram mais do que 15 dias foram observados principalmente por um clínico geral (52%, p=0,027).
O tempo médio desde a primeira consulta e o diagnóstico foi de 56±87 dias (mínimo: um dia, máximo: 512 dias). Os doentes com sintomas respiratórios tiveram em média um diagnóstico mais rápido do que os restantes (37,9 versus 127 dias, p=0,013).
Em 21 doentes o diagnóstico foi realizado num tempo inferior a 15 dias. Na maioria dos doentes em que o diagnóstico foi realizado em menos do que 15 dias, estes foram, na sua maioria, observados inicialmente no Serviço de Urgência (57,1%). No grupo de doentes em que o diagnóstico demorou mais do que 15 dias, estes foram observados principalmente pelo clínico geral (39,4%, p=0,026).
O tempo médio desde o início dos sintomas e o diagnóstico foi de 92±103 dias (mínimo: 3 dias, máximo: 559 dias).
No nosso estudo observámos uma elevada demora desde o início dos sintomas e o doente ser observado pela primeira vez por um profissional de saúde. Em países subdesenvolvidos/em desenvolvimento esta demora é em média de 31,7 dias e nos países desenvolvidos de 25,8 dias3,4. No nosso estudo obtivemos uma demora média semelhante aos países subdesenvolvidos/em desenvolvimento.
Observámos um atraso inaceitável entre a primeira observação por um profissional de saúde e o diagnóstico. O tempo médio descrito em países subdesenvolvidos/em desenvolvimento é de 28,4 dias (2-87 dias) e em países desenvolvidos é de 21,5 diash (7-36 dias)3,4. No nosso estudo obtivemos uma demora superior à descrita na literatura.
Estes resultados sugerem a necessidade de rever/implementar estratégias no sentido de ser realizado um diagnóstico mais precoce da TB. O atraso no diagnóstico da TB vai ter influência na dinâmica de transmissão e prevenção da TB.
Por outro lado, é importante realizar programas educacionais para a população, para que os doentes reconheçam os sintomas de TB e procurem um profissional de saúde mais precocemente.
Responsabilidades éticasProteção de pessoas e animaisOs autores declaram que para esta investigação não se realizaram experiências em seres humanos e/ou animais.
Confidencialidade dos dadosOs autores declaram que não aparecem dados de pacientes neste artigo.
Direito à privacidade e consentimento escritoOs autores declaram que não aparecem dados de pacientes neste artigo.
AutoriaRaquel Duarte e Vanda Areias desenharam o estudo. Vanda Areias elaborou a primeira versão do artigo. Vanda Areias e Inês Neves recolheram os dados. Raquel Duarte e Aurora Carvalho reviram o artigo.
Conflitos de interesseOs autores declaram não haver conflito de interesses.