Os autores desenharam um estudo duplamente cego para investigar o efeito da descontinuação do propionato de fluticasona (PF) nas exacerbações e qualidade de vida em doentes com DPOC (estudo COPE).
Durante 4 meses, 244 doentes com DPOC foram medicados com propionato de fluticasona (1000 (g /dia).
A selecção dos doentes baseou se em critérios clínicos e funcionais e idade compreendida entre os 40 e os 75 anos. Após este período de tempo, 123 doentes mantiveram o tratamento com PF e 121 doentes receberam placebo durante 6 meses. As visitas de controlo ocorreram aos 3 e 6 meses, tendo os doentes sido avaliados do ponto de vista funcional e clínico. Os critérios analisados no estudo foram o número, gravidade e intervalo de tempo entre as exacerbações, a qualidade de vida (questionário respiratório de St George’s), parâmetros funcionais respiratórios (espirometria) e tolerância ao esforço (prova de 6 minutos de marcha standardizada).
Na análise dos resultados, os autores demonstraram que no grupo medicado com PF, 47% dos doentes sofreram pelo menos uma agudização, em contraste dos 57% do grupo placebo. No grupo placebo, 21% dos doentes apresentaram exacerbações recorrentes e rápidas, ao contrário dos 6% de doentes medicados com PF. Em termos de qualidade de vida, uma diferença significativa ocorreu também entre os 2 grupos, a nível do score total, actividade e sintomas.
Não se verificaram diferenças na prova de marcha entre os 2 grupos avaliados. O estudo funcional mostrou uma diferença significativa de 38 ml de VEMS pós-broncodilatação, a favor do grupo medicado com FP.
Este estudo indica que a descontinuação de PF em doentes com DPOC está associada a um mais rápido início e recorrência de agudização, bem como uma deterioração maior da qualidade de vida.
COMENTÁRIOEstima-se que a DPOC constitua a 5.ª doença mais frequente e a 4.ª causa de morte a nível mundial.
Não existindo cura para esta doença, a terapêutica assenta fundamentalmente na broncodilatação e na evicção tabágica.
Sabe se que apesar de a DPOC ser uma doença inflamatória crónica das vias aéreas, os corti cóides inalados (CI) não modificam o declínio mais acelerado do VEMS constatado na DPOC.
Múltiplos estudos foram efectuados tendo como um dos objectivos determinar a validade da utilização de CI na DPOC, dos quais se salienta:
O estudo EUROSCOP revela eficácia reduzida e transitória do budesonido; o estudo ISOLDE mostrou uma pequena redução no declínio do VEMS, um menor número de exacerbações e score sintomático, em doentes com DPOC grave tratados com fluticasona e o estudo COPENHAGEN não demonstrou qualquer beneficio do budesonido na DPOC ligeira e moderada.
O projecto GOLD considera os CI como fármacos de 2.ª linha no tratamento da DPOC, mas refere também uma melhoria sintomática, uma redução no número e gravidade das exacerbações e melhoria da qualidade de vida.
Este estudo vem exactamente reforçar o efeito benéfico dos CI em doentes com DPOC a nível da qualidade de vida e frequência e gravidade das agudizações, assim como o agravamento destes parâmetros após a suspensão dos CI.
Am. J. Respir. Crit. Care Med. 2002; 166: 1358-1363
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