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Vol. 14. Issue 4.
Pages 573-576 (July - August 2008)
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Efeito do tiotrópio na expectoração e nos marcadores inflamatórios séricos e exacerbações da DPCO
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D.J. Powrie, T.M.A. Wilkinson, G.C. Donaldson, P. Jones, K. Scrine, K. Viel, S. Kesten, Wedzicha
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Resumo

A doença pulmonar obstrutiva crónica (DPOC) é uma doença inflamatória das vias aéreas, determinando um declínio progressivo e irreversível da função pulmonar.

As agudizações da DPOC caracterizam-se por agravamento de sintomatologia, deterioração da função pulmonar e aumento da inflamação das vias aéreas. Constituem a maior causa de morbilidade e mortalidade, tendo implicações importantes no tratamento desta patologia.

Os doentes com maior número de exacerbações têm pior qualidade de vida, ficando, muitas vezes, limitados ao domicílio e apresentando maior taxa de mortalidade. O número elevado de exacerbações está relacionado com um maior declínio da função pulmonar e uma inflamação das vias aéreas mais acentuada nos períodos de estabilidade. Assim, reduzir o número de exacerbações constitui um claro objectivo do manuseamento da DPOC.

O tiotrópio é um broncodilatador anticolinérgico inalado. Numerosos estudos demonstraram uma melhoria do VEMS, CVF e volumes pulmonares, da qualidade de vida e da capacidade de exercício em doentes tratados com este fármaco, bem como uma diminuição do número de agudizações, internamentos e recurso a cuidados médicos.

Os autores do presente estudo procuraram demonstrar que o tiotrópio pode reduzir a inflamação das vias aéreas, condicionando uma redução da frequência de exacerbações.

O objectivo deste trabalho foi avaliar, em primeira instância, o efeito do tiotrópio inalado nas vias aéreas e nos marcadores inflamatórios séricos em doentes com DPOC, bem como a sua relação com o número de agudizações, utilizando, para isso, registos diários de sintomas.

Tratou-se de um estudo randomizado, duplamente cego, controlado com grupo-placebo, com a duração de um ano, efectuado para determinar o efeito do tiotrópio nos marcadores inflamatórios séricos, na expectoração e na frequência de exacerbações.

Foram incluídos doentes com idade40 anos com o diagnóstico de DPOC (VEMS<80% do previsto e VEMS/CVF<70%) e hábitos tabágicos10 UMA seguidos na consulta externa do London Chest Hospital.

Indivíduos com história de asma brônquica ou Atopia ou sob oxigenioterapia de longa duração foram eliminados.

Foi administrado 18 μg de tiotrópio ou placebo, utilizando um dispositivo HandiHaler diariamente e fornecido um registo diário para anotar os sintomas, peak flow matinal e a terapêutica efectuada. Foram realizadas colheitas de expectoração e sangue antes do início do estudo.

Os doentes foram observados às 4, 16, 32 e 52 semanas, tendo sido submetidos a espirometria e colheita de expectoração (induzida ou espontânea) e analisados os registos diários nessas datas. Nas semanas 32 e 52 foram efectuadas análises de sangue periférico e os doentes foram interrogados sobre as características de expectoração.

Foram quantificados os marcadores interleucina 6 (IL-6), interleucina 8 (IL-8) e mieloperoxidase na expectoração e os níveis séricos de IL-6 e proteína C reactiva pelo método ELISA. Foram efectuados exames bacteriológicos de expectoração.

O diagnóstico de exacerbação baseou-se em critérios sintomáticos previamente validados pelo East London COPD Study Group. Uma exacerbação foi definida pela presença durante2 dias consecutivos de um aumento de dois dos sintomas major (dispneia, purulência e quantidade de expectoração) ou de um sintoma major e um sintoma minor (pieira, odinofagia, tosse ou sintomas de uma virose banal).

O efeito do tiotrópio na taxa anual de exacerbações de cada indivíduo (n.° de exacerbações multiplicadas por 365/dias de terapêutica) foi estudado utilizando o teste de Wilcoxon.

O tempo de recuperação da exacerbação foi definido com o período que decorre até ao retorno pós-exacerbação do valor de peak flow ao nível basal (14-8 dias antes da agudização).

Foram estudados 237 doentes com DPOC, dos quais 142 randomizados (69 tiotrópio e 73 placebo). Foram criados dois grupos: 99 doentes com história de<3 exacerbações/ano (41 não fumadores, 25 fumadores) e 43>3 exacerbações/ano (18 não fumadores; 25 fumadores).

Não se observaram diferenças entre os valores de IL-6, número de exacerbações e hábitos tabágicos no grupo sob tratamento com tiotrópio e o grupo placebo, mas o nível de IL-8 foi superior no primeiro grupo (15,4%), sendo maior nos indivíduos fumadores. Em relação à mieloperoxidase, não se verificou diferença estatisticamente significativa. Não se observou, também, efeito do tiotrópio nos níveis de IL-6 e mieloperoxidase na expectoração, o mesmo sucedendo com os níveis séricos de IL-6 e proteína C reactiva.

O tiotrópio associou-se a uma redução de 52% no número de exacerbações (1,17 versus 2,46 exacerbações/ ano). Nos indivíduos sob tiotrópio verificou-se uma agudização em 43% comparada com 64% no grupo placebo. O número total de dias de exacerbação foi inferior no grupo sob tiotrópio (17,3 versus 34,5 dias).

Tal deveu-se a um menor número de agudizações neste grupo e não a uma redução da duração da mesma. Durante o estudo, o valor da VEMS dos doentes tratados com tiotrópio aumentou de 1,35±0,47L para 1,39±0,55L num ano, enquanto no grupo-placebo se verificou um declínio do mesmo (1,26±0,49 para 1,20±0,49 L ao fim de um ano).

O tempo médio até à primeira exacerbação no grupo tiotrópio foi de 236±143 dias comparado com 157±124 dias no grupo-placebo.

Em relação ao isolamento de bactérias na expectoração, não houve diferenças estatisticamente significativas entre os dois grupos, sendo a mais frequente o Haemophilus influenzae.

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