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Vol. 16. Issue 3.
Pages 431-451 (May - June 2010)
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Vol. 16. Issue 3.
Pages 431-451 (May - June 2010)
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Reacções adversas aos antibacilares em doentes internados: Gravidade e factores de risco
Adverse reactions to antituberculosis drugs in in-hospital patients: Severity and risk factors
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1393
Ana Sofia Vilariça1,
Corresponding author
anasofia.vilarica@gmail.com

Serviço de Pneumologia III Hospital de Pulido Valente, Centro Hospitalar Lisboa Norte, Lisboa Alameda das Linhas de Torres, 117, 1769-001 Lisboa.
, Nelson Diogo2, Mota André2, Jaime Pina3
1 Interna do Internato Complementar de Pneumologia/Resident, Pulmonology
2 Assistente Hospitalar Graduado de Pneumologia/Specialist, Consultant, Pulmonology
3 Chefe de Serviço Hospitalar de Pneumologia e Director do Serviço de Pneumologia III, do Hospital de Pulido Valente, Lisboa/Head, Hospital Pulmonology Unit and irector, Pulmonolgy Unit III, Hospital de Pulido Valente, Lisbon
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Resumo
Introdução

Atendendo às características do Mycobacterium tuberculosis (MT), o tratamento da tuberculose (TB) é feito com uma associação de vários fármacos, por um período de tempo alargado (≥ a 6 meses), cada um com potencial para provocar reacções adversas (RA). Estas podem acompanhar-se de significativa morbilidade e comprometer o tratamento da TB.

Objectivos

Determinar a incidência, a gravidade e os factores de risco das principais RA induzidas pelos antibacilares, em doentes internados com TB em tratamento.

Material e métodos

Análise retrospectiva dos registos clínicos dos doentes internados no Serviço de Pneumologia III do Hospital de Pulido Valente com tuberculose activa, medicados com antibacilares, durante o período de Abril de 1999 a Julho de 2007. Foram registadas as RA que resultaram em modificação ou descontinuação do tratamento ou que foram a causa de internamento. As características demográficas e os dados clínicos dos doentes foram usados como variáveis independentes. A relação entre variáveis independentes e a frequência e gravidade das RA foi feita através de uma análise multivariada, utilizando um modelo de regressão logística. Os dados foram analisados pelo teste t de Student, one-way ANOVA e regressão logística. A aplicação utilizada para a análise estatística foi o programa SPSS (Statistical Package for the Social Sciences), versão 15.0.

Resultados

Dos 1400 doentes internados e tratados por TB activa entre 1999 e 2007, 175 doentes (12,5%), 118 homens e 57 mulheres, apresentaram pelo menos uma RA induzida pelos antibacilares, num total de 192 eventos. A hepatotoxicidade foi a RA mais prevalente (83/47,4%), seguindo-se a reacção cutânea (55/31,4%) e a intolerância gastrintestinal (24/13,7%). Em 76 doen tes (43,4%) as RA causaram o prolongamento do internamento. Constatou-se que a demora média do grupo de doentes com RA foi de 58,4 dias. Esta demora média apresentou diferenças estatisticamente significativas (p<0,001) em relação à demora média dos doentes sem RA, que foi de 26 dias. Os fármacos mais implicados foram a isoniazida (62,2%) e a rifampicina (51,9%). Dos 134 casos em que foi possível caracterizar a gravidade das RA, em 106 casos (79%) houve necessidade de suspensão do fármaco. A relação causal fármaco-RA foi definitiva em 23 casos (17%). Dos 13 doentes (9,6%) que faleceram, em 6 (4,4%) a RA esteve directamente implicada na causa de morte. A ocorrência de qualquer RA foi associada ao alcoolismo (risco relativo [RR] de 3,0; 95% de intervalo confiança [IC], 1,1–7,9) e aos níveis de CD4 < 350 células/ mm3 ([RR] de 2,6 ; [IC], 1,4–5). No modelo preditivo, as reacções hepáticas foram associadas à ocorrência de hepatites virais B e/ou C ([RR] de 2,5; [IC], 1,2–5,1) e aos níveis de CD4 < 350 células/mm3 ([RR] de 5,5; [IC], 1,6–18,6).

Conclusões

Os antibacilares estão associados a um número significativo de RA que podem condicionar grande morbilidade, prolongamento do internamento e mesmo alguma mortalidade. Os nossos resultados mostram que o alcoolismo e os níveis de CD4 <350 células/mm3 foram significativamente associados a um elevado risco de ocorrência de qualquer RA e que as hepatites B e C e os níveis de CD4 < 350 células/mm3 foram associados, também de forma significativa, ao risco de RA hepáticas.

Palavras-chaves:
Tuberculose
reacção adversa (RA)
antibacilares
infecção VIH
Abstract
Introduction

Given Mycobacterium tuberculosis's characteristics, the treatment of tuberculosis (TB) infection is administered over a long period of time (for six months or more) with a combination of several drugs which could cause adverse reactions (AR). These can cause significant morbidity and compromise tuberculosis treatment regimens.

Aim

To determine the incidence and severity of and risk factors for major adverse reactions to antituberculosis drugs in in-hospital patients treated for active tuberculosis.

Methods

Retrospective analysis of clinical records of patients admitted to Pulido Valente Hospital (Pulmonology Unit III) with active TB treated with anti-tuberculosis agents April 1999 to July 2007. Adverse reactions resulting in modification or discontinuation of treatment or hospital admission were recorded.

Patients’ demographic characteristics and clinical data were used as independent variables. The relationship between independent variables and the frequency and severity of AR was studied using multivariate analysis using a logistic regression model. The data were analysed using the Student t test, one-way ANOVA and logistic regression. Statistical analysis was performed using the SPSS (Statistical Package for the Social Sciences) version 15.0.

Results

We recorded 1400 in-hospital patients treated for active TB 1999 to 2007, of which 175 patients (12.5%), 118 male and 57 female, had at least one AR induced by antituberculosis agents, to a total of 192 events. Hepatotoxicity was the most prevalent AR (83/47.4%), followed by skin reactions (55/31.4%) and gastrointestinal intolerance (24/13.7%). In 76 patients (43.4%) AR caused prolonged hospital stay. Statistically significant differences (p<0.001) were observed in the average hospital stay (58.4 days for patients with AR and 26 days for patients without AR). Isoniazid (62.2%) and rifampicin (51.9%) were the most frequently implicated drugs. It was possible to characterise the AR severity in 134 cases. In 106 cases (79%) AR resulted in discontinuation of the drug. The relationship between drug and AR was definitive in 23 cases (17%). Of the 13 patients (9.6%) who died, AR was directly implicated in the cause of death in six (4.4%). AR were associated with alcoholism (relative risk [RR] 3.0; 95% confidence interval [CI] 1.1–7.9) and CD4 levels <350 cells/mm3 (RR 2.6; CI 1.4–5). In the predictive model, hepatic reactions were associated with viral hepatitis B and/or C (RR 2.5, CI; 1.2–5.1) and that CD4 levels <350 cells/mm3 (RR 5.5; CI 1.6–18.6).

Conclusions

Antituberculosis drugs are associated with a significant number of AR that can cause significant morbidity, prolonged hospital stay and even death. Our results show that alcoholism and levels of CD4 <350 cells/mm3 were significantly associated with a high risk of AR and hepatitis B and C and levels of CD4 <350 cells/mm3 were also significantly associated with hepatotoxicity.

Key-words:
Tuberculosis
adverse reaction (AR)
antituberculosis drug
HIV infection
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