Asma e DPOC são patologias respiratórias em que o envolvimento e conhecimento dos doentes é determinante no tratamento. Uma forma de esclarecimento e informação é a realização de sessões de educação para doentes.
ObjectivoAvaliar a eficácia de sessões de educação para doentes com Asma e DPOC na aquisição de conhecimentos.
MétodosA propósito da uma iniciativa da Fundação Portuguesa do Pulmão, com o intuito de promover o conhecimento sobre a saúde respiratória, foram realizadas sessões de educação para doentes com diagnóstico de Asma e DPOC.
Foram seleccionados aleatoriamente 25 doentes com os diagnósticos referidos e convidados a participar. Cada sessão teve a duração de 60 minutos. O conhecimento foi avaliado utilizando um questionário de escolha múltipla realizado antes e depois de cada sessão.
ResultadosParticiparam 15 doentes com asma, com média de idade de 36 anos, sendo 9 (60%) do sexo feminino; 60% dos doentes sabiam nomear correctamente a sua patologia. Dos doentes com DPOC participaram 17, com média de idade de 69 anos, 12 (70%) eram do sexo masculino e apenas 3 doentes nomearam correctamente a sua patologia respiratória. Em ambos os grupos verificou-se melhoria estatisticamente significativa (p<0,05), das respostas correctas ao questionário após cada sessão de educação.
ConclusãoVerificou-se um aumento de conhecimento dos doentes em ambas as sessões de educação. Os doentes com DPOC parecem ter menor informação sobre a sua doença e têm maior dificuldade em denominá-la.
Asthma and COPD are respiratory diseases in which a better knowledge and understanding of the pathology allows the patients to be more involved, which is crucial in their treatment. Holding educational sessions is a good way of imparting information to the patients.
AimTo determine the efficacy of educational sessions in helping patients with Asthma and COPD to acquire a better understanding of their condition.
MethodsFollowing a Portuguese Lung Foundation initiative to improve knowledge about respiratory health, educational sessions for patients suffering from Asthma or COPD were organized. 25 randomized patients with the disease were invited to participate. Each session lasted 60minutes. Patient knowledge was tested by means of a multiple choice questionnaire before and after the session.
ResultsFifteen patients with asthma attended the sessions, they had an average age of 36 years, of which 60% were female. Within the group 60% were able to name their pathology correctly. Seventeen patients with COPD attended the sessions, they had an average age of 69 years, of which 70% were males and only 3 (17,6%) patients were able to correctly name their pathology. In both groups, there was a statistically positive improvement (p<0,05) of correct answers to the questionnaire the end of each educational session.
ConclusionPatient knowledge increased in each educational session. Patients with COPD were less well informed about their disease than patients with asthma and they also had more difficulty in correctly naming their disease.
A Asma e a DPOC são patologias respiratórias com elevada prevalência na população geral, que se prevê, estarem a aumentar1,2. Ambas são importantes causas de absentismo laboral e/ou escolar3–6, com importante impacto nas despesas com a saúde7,8, daí estarem a ser feitos esforços para um controlo mais eficaz destas doenças1,2,7.
Múltiplos estudos demonstraram o benefício da educação destes doentes sobre as suas patologias no que respeita à diminuição de admissões hospitalares, número de consultas médicas, diminuição do absentismo laboral e melhoria da qualidade de vida9–11. Estudos têm demonstrado que os benefícios na função pulmonar12,13 e na adesão ao tratamento14 são mais expressivos nos doentes asmáticos e as análises de custo/benefício confirmam vantagem na educação dos doentes com asma e com DPOC10,11.
Desta forma, a educação dos doentes é uma prática actualmente aconselhada em várias normas de orientação clínica1,2,15. A forma escolhida para a educação dos doentes é muito diferente nos múltiplos estudos efectuados9–14 mas, pela consistência dos resultados é possível admitir que é o acesso à informação o factor determinante. De salientar a variação no que respeita ao número, regularidade e forma de sessões, número de participantes (individual/grupo) e as características dos formadores (médicos/enfermeiros).
Neste trabalho os autores pretendem avaliar a eficácia de uma sessão de educação única, com duração de 60 minutos, realizada por Médicos para doentes com Asma e outra para doentes com DPOC, através da variação de respostas correctas dadas pelos doentes a um questionário aplicado antes e imediatamente depois de cada sessão, sobre a sua patologia.
MétodosA propósito da iniciativa “Semana do Pulmão”, levada a cabo pela Fundação do Pulmão, com o intuito de promover o conhecimento da população geral e da população com patologia respiratória em particular, sobre a saúde respiratória, foram realizadas no Norte do país em Outubro de 2010 várias iniciativas em parceria com a Unidade de Saúde Familiar (USF) Nova Via (ACES Espinho/Gaia).
Assim, foram seleccionados aleatoriamente, a partir da base de dados de doentes da USF Nova Via, e convidados a participar em sessões de educação 25 doentes com o diagnóstico de Asma ou de DPOC, obtido de acordo com as normas vigentes1,2.
Foi realizada uma sessão para doentes com Asma e outra para doentes com DPOC. Cada sessão teve a duração de 60 minutos, antes e após a qual, foi respondido um inquérito sobre os dados demográficos de cada doente e efectuado um questionário de escolha múltipla, com 4 ou 5 opções (fig. 1), que foi respondido de forma anónima, por voto electrónico, em 60 segundos por questão.
Cada apresentação teve apoio iconográfico e foram abordados, de forma sucinta, a definição, prevalência, factores de risco, características clínicas e formas de tratamento de cada uma das patologias. Posteriormente foi realizada uma demonstração de técnica inalatória com os vários dispositivos. Nesta fase os doentes foram convidados a colocar questões e a esclarecer eventuais dúvidas.
Foram avaliadas as características demográficas dos doentes (sexo/idade), hábitos tabágicos e a capacidade de denominar a sua própria patologia.
Foi feita a análise estatística das respostas dos questionários pré e pós-sessão de ensino, através de SPSS Statistics 18, utilizando o teste de Wilcoxon, bem como a avaliação das características demográficas dos doentes envolvidos.
ResultadosDos 25 doentes seleccionados para participar em cada sessão, compareceram 15 doentes com asma e 17 doentes com DPOC.
Na sessão de asma a média de idade dos participantes foi de 36 anos (6-72 anos), 9 doentes (60%) eram do sexo feminino e 6 do sexo masculino. Quatro doentes eram fumadores, 2 ex-fumadores e 9 não fumadores. O tempo médio entre o diagnóstico e a realização da sessão foi de 10,3 (1-40) anos. A maioria dos doentes tinha asma persistente moderada (61,5%) e asma intermitente (30,8%), de acordo com a classificação de gravidade da GINA1. Apenas 8 doentes declararam as suas habilitações académicas, sendo 2 licenciados, 3 tinham completado o ensino secundário e 3 tinham o ensino básico (4 anos de escolaridade).
Quando questionados sobre o nome da patologia respiratória de que padeciam, 9 doentes (60%) responderam “Asma”, 3 (20%) “bronquite” e 3 (20%) não souberam responder (Tabela 1).
Características dos doentes.
Características | Asma | DPOC |
---|---|---|
Idade (anos) | 36 (6-72) | 69 (53-82) |
Sexo | ♂ 6 (40%) | ♂ 12 (70%) |
♀ 9 (60%) | ♀ 5 (30%) | |
Hábitos Tabágicos | ||
Fumador | 4 (26,7%) | 5 (29,4%) |
Ex-fumador | 2 (13,3%) | 6 (35,3%) |
Não fumador | 9 (60%) | 6 (35,3%) |
Tempo médio entre o diagnóstico e as sessões (anos) | 10,3 (1-40) | 2,8 (0,5-6) |
Gravidade da doença | Intermitente – 30,8% | Estádio I – 18,2% |
Persistente Leve – 61,5% | Estádio II – 72,7% | |
Persistente moderada – 7,7% | Estádio III – 91,1% | |
Capacidade de denominar a patologia | Sim 9 (60%) | Sim 3 (17,6%) |
Não 6 (40%) | Não 14 (82,4%) |
Nesta sessão, o questionário era constituído por 7 perguntas, a média de respostas correctas iniciais foi de 57% (28,5 - 90%) e de respostas finais de 78% (57,10 - 100%). Constatou-se uma melhoria das respostas com significado estatístico (p=0,02) (fig. 2).
Na sessão de DPOC a idade média dos participantes foi de 69 anos (53-82 anos), 12 doentes (70%) eram do sexo masculino e 5 do sexo feminino. Cinco doentes eram fumadores, 6 ex-fumadores e 6 não fumadores. O tempo médio entre o diagnóstico e a sessão de ensino foi de 2,8 (0,5-6) anos. Utilizando a classificação de gravidade de doença do GOLD2, a maioria dos doentes tinham DPOC estádio II (72,7%). Apenas 2 doentes declararam as suas habilitações académicas e ambos tinham o ensino básico (4 anos de escolaridade).
Quando questionados sobre o nome da patologia respiratória que lhes havia sido diagnosticada, 3 doentes (17,6%) responderam “DPOC”, sendo de realçar que 8 (47.1%) responderam “bronquite” e 1 (5,9%) “enfisema” (Tabela 1).
O questionário para estes doentes, tinha 6 perguntas, a média de respostas correctas iniciais foi de 21,9% (11 - 40%) e de respostas finais de 68,3% (37,5 - 100%). Houve uma melhoria das respostas correctas com significado estatístico (p=0,03) (fig. 3).
DiscussãoA importância e o benefício da educação dos doentes com Asma e DPOC são consensuais10,11. Nestas doenças a baixa adesão ao tratamento, a incapacidade de reconhecer os factores desencadeantes individuais, os factores de risco e o impacto da sua evicção, estão associados a incapacidade de controlar a doença e a mortes potencialmente evitáveis2,7,16. Dessa forma, sessões de educação que permitam que os doentes reconheçam o papel determinante que têm no controlo da sua própria doença conduzem a melhoria dos índices de adesão terapêutica e consequentemente do controlo da doença9–15.
Este trabalho tem como limitações o pequeno número da amostra e ter sido realizado num só local geográfico, impedindo a extrapolação de resultados para áreas mais alargadas como a população portuguesa. Não foram analisadas as características dos indivíduos que, apesar de convocados para as sessões, não compareceram. Uma vez que na sessão de asma as perguntas com pior desempenho estavam feitas pela negativa (pediam para seleccionar a opção falsa), permite introduzir a clareza do questionário como eventual factor de confusão na avaliação do desempenho. Adicionalmente os diagnósticos das patologias respiratórias, apesar de realizados de acordo com as normas vigentes, não foram efectuados por Especialistas.
Relativamente à análise dos dados demográficos, tal como descrito na literatura, há uma maior prevalência de indivíduos do sexo masculino no grupo de doentes com DPOC e os doentes com asma são mais jovens. Curiosamente, constatou-se uma elevada prevalência de não fumadores no grupo de doentes com DPOC, a sua doença poderá ser explicada por eventual exposição profissional. A média de repostas inicialmente correctas foi maior nos doentes com asma e, apesar de não ter sido um dado analisado, verificou-se que esses foram mais interventivos e colocaram maior número de questões ao longo de toda a sessão. Apenas um baixo número de doentes declarou as suas habilitações académicas, pelo que, esse parâmetro não pode ser correctamente analisado.
As respostas obtidas no questionário inicial sugerem debilidade do conhecimento dos doentes relativamente às suas doenças respiratórias que poderá ser justificado por, na sua maioria, terem doenças em estádios leve a moderado.
Avaliando a variação das respostas correctas em ambas as sessões constatamos uma melhoria com significado estatístico. Esta realidade parece não ser exclusiva dos doentes respiratórios, resultados semelhantes foram obtidos em várias doenças crónicas como a hipertensão arterial, diabetes mellitus e obesidade, em que a adesão ao tratamento é essencial e que a educação dos doentes é determinante17–19.
É, também, interessante o facto de um baixo número de doentes com DPOC utilizar esta terminologia quando referem a patologia respiratória de que padecem. Durante muitos anos foram usados termos como bronquite e enfisema para definir este grupo de doentes e talvez esse tipo de nomenclatura seja uma denominação mais perceptível para a população geral do que o uso de uma sigla.
Assumindo que a aquisição de conhecimentos é determinante, sessões tais como as utilizadas neste trabalho parecem eficazes e úteis. Devemos, ainda, ter em conta que a educação é um processo contínuo, pelo que a realização de sessões sucessivas permitiriam potenciar os benefícios da aquisição dos conhecimentos.
ConclusãoAs sessões de educação de doentes com os diagnósticos de Asma e DPOC permitiram aumentar o conhecimento daqueles sobre a sua patologia.
Os doentes com DPOC parecem ter menor informação sobre a sua doença do que os doentes com asma e apresentaram maior dificuldade em denominar correctamente a sua patologia.
Conflito de interessesOs autores declaram não haver conflito de interesses