O Questionário de Berlim (QB), originalmente desenvolvido em língua inglesa como um instrumento de rastreio da síndrome de apneia obstrutiva do sono (SAOS) em cuidados de saúde primários, tem sido aplicado no âmbito dos cuidados secundários, com resultados variáveis.
ObjectivosObtenção da versão em língua Portuguesa do QB e avaliação da sua utilidade numa consulta de Patologia Respiratória do Sono.
Material e métodosO QB foi traduzido utilizando a metodologia back translation e aplicado, previamente ao estudo cardiorespiratório do sono, a 95 indivíduos consecutivos referenciados à consulta de patologia respiratória do sono por suspeita de SAOS. A avaliação do risco para a SAOS baseou-se nas respostas a 10 itens, organizados em 3 categorias: roncopatia e apneias presenciadas (categoria 1), sonolência diurna (categoria 2), hipertensão arterial (HTA)/obesidade (categoria 3).
ResultadosNa amostra estudada, 67,4% era do sexo masculino, com uma média de idades de 51±13 anos. As categorias 1, 2 e 3 foram positivas em 91,6, 24,2 e 66,3%, respectivamente. O QB identificou 68,4% dos doentes como apresentando alto risco para a SAOS e os restantes, 31,6%, baixo risco. A sensibilidade e a especificidade do QB, considerando um índice de apneia/hipopneia (IAH)>5, foi de 72,1 e 50,0% respectivamente, de 82,6 e 44,8% para um IAH>15 e de 88,4 e 39,1% para um IAH>30. Estar incluído no grupo de alto risco para a SAOS não influenciou significativamente a probabilidade de ter doença (likelihood ratio (LR) positivo entre 1,44–1,49). Apenas os itens referentes à intensidade sonora da roncopatia, apneias presenciadas e HTA/obesidade, apresentaram uma associação positiva estatisticamente significativa com o IAH, com o modelo constituído pela associação destes itens a apresentar uma maior capacidade de discriminação, especialmente para um IAH>5 (sensibilidade 65,2%, especificidade 80,0%, LR Positivo 3.26).
ConclusãoO QB não é um instrumento apropriado de rastreio da SAOS numa consulta de patologia respiratória do sono, embora a intensidade da roncopatia, as apneias presenciadas e a HTA/obesidade tenham demonstrado ser elementos do questionário com expressão significativa nesta população.
Berlin Questionnaire (BQ), an English language screening tool for obstructive sleep apnea (OSA) in primary care, has been applied in tertiary settings, with variable results.
AimsDevelopment of BQ Portuguese version and evaluation of its utility in a sleep disordered breathing clinic (SDBC).
Material and methodsBQ was translated using back translation methodology and prospectively applied, previously to cardiorespiratory sleep study, to 95 consecutive subjects, referred to a SDBC, with OSA suspicion. OSA risk assessment was based on responses in 10 items, organized in 3 categories: snoring and witnessed apneas (category 1), daytime sleepiness (category 2), high blood pressure (HBP)/obesity (category 3).
ResultsIn the studied sample, 67.4% were males, with a mean age of 51±13 years. Categories 1, 2 and 3 were positive in 91.6, 24.2 and 66.3%, respectively. BQ identified 68.4% of the patients as being in the high risk group for OSA and the remaining 31.6% in the low risk. BQ sensitivity and specificity were 72.1 and 50%, respectively, for an apnea-hipopnea index (AHI)>5, 82.6 and 44.8% for AHI>15, 88.4 and 39.1% for AHI>30. Being in the high risk group for OSA did not influence significantly the probability of having the disease (positive likelihood ratio [LR] between 1.44–1.49). Only the items related to snoring loudness, witnessed apneas and HBP/obesity presented a statistically positive association with AHI, with the model constituted by their association presenting a greater discrimination capability, especially for an AHI > 5 (sensitivity 65.2%, specificity 80%, positive LR 3.26).
ConclusionsThe BQ is not an appropriate screening tool for OSA in a SDBC, although snoring loudness, witnessed apneas, HBP/obesity have demonstrated being significant questionnaire elements in this population.