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Vol. 19. Issue 1.
Pages 38-41 (January - February 2013)
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Vol. 19. Issue 1.
Pages 38-41 (January - February 2013)
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Exequibilidade do estudo funcional respiratório em idade pré-escolar na prática clínica
Feasibility of routine respiratory function testing in preschool children
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N. Santosa,c,
Corresponding author
natachalsantos@gmail.com

Autor para correspondência.
, I. Almeidaa, M. Coutoa,c,d, M. Morais-Almeidaa,e, L.M. Borregoa,b
a Centro de Imunoalergologia, Hospital CUF Descobertas, Lisboa, Portugal
b Departamento de Imunologia, Centro de Estudos de Doenças Crónicas, Faculdade de Ciências Médicas, Universidade Nova de Lisboa, Lisboa, Portugal
c Serviço de Imunoalergologia, Centro Hospitalar São João E.P.E., Porto, Portugal
d Serviço e Laboratório de Imunologia, Faculdade de Medicina, Universidade do Porto, Porto, Portugal
e Clínica Universitária de Pneumologia, Faculdade de Medicina de Lisboa, Lisboa, Portugal
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Tabela 1. Exequibilidade das provas de função respiratória de acordo com a idade
Resumo
Introdução

A avaliação da função respiratória em idade pré-escolar reveste-se de particularidades metodológicas, tendo ganho recentemente um interesse crescente. A sua exequibilidade na prática clínica, em grandes grupos de doentes, continua, no entanto, por investigar.

Objetivo

Avaliar a exequibilidade do estudo funcional respiratório em idade pré-escolar e o grau de sucesso de acordo com a idade.

Métodos

Análise retrospetiva de provas funcionais respiratórias realizadas em crianças com 2 a 6 anos no laboratório de exploração funcional respiratória do Hospital CUF Descobertas entre Setembro de 2006 e Agosto de 2011. Foi efetuada pletismografia corporal sem oclusão para avaliação da resistência específica das vias aéreas (sRaw) e espirometria animada, com equipamento Jaeger4.65 (VIASYS Healthcare) antes e após 400 ug de salbutamol inalado em câmara expansora. Foram cumpridos os critérios internacionais (ATS/ERS) para aceitabilidade e reprodutibilidade.

Resultados

De 1 239 provas funcionais respiratórias realizadas, 1 092 (88%) tinham uma espirometria com critérios de aceitabilidade e reprodutibilidade (crianças com idade média de 4,3±0,91 anos; 60,7% do sexo masculino), e 979 (79%) sucesso na determinação de sRaw. Foi possível reportar FEV1 em 801 (65%) provas (crianças com idade média 4,5±0,89 anos). Em 23 (2%) das provas apenas foi possível reportar FEV0,5 (crianças com idade média de 3,5±0,67 anos) e em 268 (22%) apenas FEV0,75 (crianças com idade média de 4,0±0,89 anos).

Conclusão

A espirometria e a avaliação de resistências em idade pré-escolar são exequíveis na prática clínica diária, com um aumento do sucesso em crianças mais velhas. O registo de manobras com duração de 0,5 ou 0,75 s permite a avaliação funcional respiratória de um maior número de crianças.

Palavras-chave:
Espirometria
Exequibilidade
Pré-escolar
Provas de função respiratória
Resistência específica das vias aéras
Abstract
Introduction

The assessment of respiratory function in preschool children, which has recently been attracting considerable interest, has several methodological particularities. Whether this is feasible in clinical practice with large groups of patients still needs to be investigated.

Aim

To assess the feasibility of pulmonary function testing in preschool children in clinical practice, and report the degree of success achieved according to age.

Methods

Retrospective analysis of lung function tests performed in children from 2 to 6 years old at the respiratory function laboratory of CUF Descobertas Hospital between September 2006 and August 2011. Whole-body pletismography without occlusion for specific airway resistance (sRaw) assessment and animated spirometry were performed using the equipment Jaeger 4.65 (Viasys Healthcare), before and after 400μg of inhaled salbutamol via a spacer device. The research fulfilled international criteria (ATS/ERS) for acceptability and reproducibility.

Results

Of 1,239 lung function tests performed, 1,092 (88%) had acceptable and reproducible criteria for spirometry (children with a mean age of 4.3±0.91 years; 60.7% male), and 979 (79%) for sRaw measurement. We were able to report FEV1 in 801 (65%) tests (children with a mean age of 4.5±0.89 years). In 23 (2%) tests it was only possible to report FEV0.5 (children with a mean age of 3.5±0.67 years) and in 268 (22%) only FEV0.75 (children with a mean age of 4.0±0.89 years).

Conclusion

Spirometry and sRaw assessment in preschool children can be used in clinical practice, with an increasing success rate as children get older. Reporting maneuvers of 0.5 or 0.75seconds facilitates spirometric evaluation in a larger number of children.

Keywords:
Spirometry
Feasibility
Preschool
Respiratory function tests
Specific airway resistance
Full Text
Introdução

As provas de função respiratória (PFR) são ferramentas de quantificação objetiva do compromisso pulmonar, utilizadas na confirmação diagnóstica, monitorização terapêutica e avaliação do prognóstico de diversas patologias1.

Em crianças em idade pré-escolar, dadas as dificuldades de coordenação e cooperação, bem como pela inadequação dos critérios publicados para a idade adulta2, as PFR estiveram muito tempo restritas à investigação.

Nesta faixa etária não é possível medir os volumes pulmonares estáticos, porque as crianças não toleram o encerramento da válvula. No entanto, a resistência específica das vias aéreas (sRaw) pode ser obtida através da medição de diferenças no fluxo respiratório relativamente a diferenças de volume no pletismógrafo, sem necessidade de respirar contra uma válvula fechada3 e a espirometria pode ser realizada com apoio de software animado num espaço amigável e confortável e com técnicos experientes, com um maior sucesso reportado para crianças mais velhas4.

Foram, em 2007, publicadas pela American Thoracic Society (ATS) e a European Respiratory Society (ERS) as recomendações dos critérios de aceitabilidade e reprodutibilidade para crianças em idade pré-escolar5, permitindo a uniformização de métodos e práticas, estando atualmente disponíveis equações de referência nesta faixa etária para a espirometria6 e a avaliação de sRaw7.

Com este estudo, realizado numa clínica especializada, visámos a determinação da exequibilidade da realização de PFR de rotina, através de espirometria e pletismografia sem oclusão antes e após broncodilatação, em crianças em idade pré-escolar, e a determinação do grau de sucesso de acordo com a idade.

MétodosDesenho do estudo e população

Análise retrospetiva de PFR realizadas no Hospital CUF Descobertas entre setembro de 2006 e agosto de 2011. Foram selecionadas crianças de 2 a 6 anos de idade seguidas em consulta externa de Imunoalergologia por asma, sibilância recorrente ou tosse crónica, e orientadas pelo seu médico para o laboratório de provas de função respiratória do mesmo hospital. Foram excluídas crianças com história de infeção respiratória ou exacerbação dos seus sintomas respiratórios nas 3 semanas prévias ao exame funcional respiratório.

Provas de função respiratória

Foi efetuado estudo funcional respiratório basal e 20min após a administração de 400μg de salbutamol inalado por câmara expansora.

Foi utilizado o equipamento MasterScreen Body Jaeger (v.4.65, CareFusion Ltd, Viasys Healthcare, Hoöchberg, Germany) calibrado diariamente de acordo com as instruções do fabricante. Todos os dados foram corrigidos para temperatura, pressão e saturação (BTPS).

O estudo teve lugar num ambiente amigável e confortável e foi realizado por uma técnica experiente. Os resultados foram obtidos com a criança sentada, usando peça bucal e, preferencialmente, um clip nasal.

As medições de sRaw foram obtidas através de pletismografia corporal sem oclusão, com a criança sentada sozinha no plestismógrafo suportando as bochechas com as mãos e encorajada a adotar um ritmo respiratório regular com uma frequência entre 30 a 45 ciclos/min. A frequência respiratória é automaticamente aferida pelo software integrado. Foi usada a tangente automaticamente selecionada pelo computador e reportada a média de 3 conjuntos de 5 a 10 ciclos respiratórios tecnicamente aceitáveis. As curvas foram consideradas aceitáveis se os ciclos respiratórios fossem sobreponíveis (i.e. curvas paralelas), de tamanho e forma semelhante, suficientemente fechadas a fluxo zero e sem óbvias distorções respiratórias (p. ex.: encerramento da glote, tosse, fala).

A espirometria foi realizada com recurso a software animado, mantendo a motivação da criança através de reforço positivo e treinando-a a dominar progressivamente as técnicas de expiração forçada. Foram obtidas e registadas um mínimo de 3 e um máximo de 15 manobras. A curva volume-tempo e fluxo-volume foram visualmente inspecionadas por pelo menos 2 investigadores independentes. Foram aceites as curvas cumprindo critérios de aceitabilidade e reprodutibilidade para crianças em idade pré-escolar publicados pela ATS/ERS5. As curvas obtidas pós-broncodilatação foram submetidas aos mesmos critérios que as curvas basais.

Os resultados foram reportados apenas para curvas obtidas antes e após a broncodilatação para um volume expiratório máximo no tempo t (FEVt) de manobras com duração igual ou superior a 0,5s.

Análise estatística

A análise estatística foi realizada usando o SPSS versão 18.0 para Windows (SPSS, Chicago, IL, EE. UU.). A média foi usada como medida de tendência central e o desvio padrão como medida de dispersão.

Resultados

Durante o período do estudo foram realizadas 1239 PFR.

Foi possível obter curvas cumprindo critérios de aceitabilidade e reprodutibilidade para a espirometria em 1092 (88%) provas (1013 crianças com idade média de 4,3±0,91 anos, das quais 615 (60,7%) do sexo masculino). 79 (7,2%) provas foram reavaliações realizadas após uma média de 12,0±8,1 meses. O FEVt obtido de acordo com a idade da criança é mostrado na tabela 1.

Tabela 1.

Exequibilidade das provas de função respiratória de acordo com a idade

  2 anosN=8n (%)  3 anosN=201n (%)  4 anosN=411n (%)  5 anosN=369n (%)  6 anosN=103n (%)  TotalN=1092n (%) 
FEV1  2 (25)  114 (57)  281 (68)  309 (84)  95 (92)  801 (73) 
FEV0.75  5 (63)  77 (38)  119 (29)  59 (16)  8 (8)  268 (25) 
FEV0.5  1 (13)  10 (5)  11 (3)  1 (0)  0 (0)  23 (2) 
sRaw  1 (13)  148 (74)  377 (92)  350 (95)  103 (100)  979 (90) 

FEVt: volume expiratório máximo no tempo t; sRaw: resistência específica das vias aéreas.

Em 23 (2%) provas apenas foi possível obter FEV0,5 e em 268 (22%) FEV0,75, permitindo reportar os parâmetros espirométricos em mais 291 (23%) provas (fig. 1). As PFR reportando FEV0,5 (crianças com idade média de 3,5±0,67 anos) e FEV0,75 (crianças com idade média de 4,0 ± 0,84 anos) foram obtidas em crianças mais novas do que as PFR em que foi possível reportar FEV1 (idade média de 4,5±0,89 anos)

Figura 1.

Percentagem cumulativa de sucesso na espirometria de acordo com o FEVt reportado.

(0.05MB).

A sRaw foi reportada em 979 (79%) das PFR (902 crianças com uma idade média de 4,4±0,87 anos, das quais 549 (60,9%) do sexo masculino).

Tanto para a espirometria como para a avaliação de sRaw houve um sucesso crescente em crianças mais velhas (tabela 1).

Discussão

As PFR foram efetuadas num grande número de crianças em idade pré-escolar e realizadas com uma elevada taxa de sucesso.

Estudos anteriores demonstraram a exequibilidade da avaliação funcional respiratória nesta faixa etária, embora tenham maioritariamente sido realizados em contexto de investigação clínica e com um número reduzido de doentes2,8.

Este estudo avaliou o grau de sucesso para o estudo funcional respiratório em idade pré-escolar, na avaliação antes e após broncodilatação, o que constitui a prática diária no laboratório de função respiratória.

Tal apenas foi possível pelo reconhecimento por parte dos médicos da especificidade técnica destes exames e da sua importância nesta faixa etária, bem como pelo facto de terem sido realizados por uma técnica experiente e especializada, com a utilização consistente da mesma metodologia e equipamento.

Estudos neste domínio têm reportado taxas de sucesso na espirometria que atingem os 85%2,8,9. Com este estudo, provamos que é possível atingir um sucesso ainda mais elevado. Como demonstrado por outros autores2,8,9, a determinação de volumes expiratórios máximos para um tempo inferior a um segundo aumenta consideravelmente o número de provas em que é possível reportar parâmetros de função respiratória, sobretudo em crianças mais novas, nas quais a determinação de FEV0,75 provou ser particularmente útil.

Em relação à avaliação de sRaw, foram reportadas taxas de sucesso entre os 75 e os 80%10, coincidentes com os nossos resultados. A exequibilidade desta técnica tem sido considerada dependente da idade, o que é confirmado no nosso estudo com a importante diminuição de sucesso na determinação de sRaw em crianças com idade igual ou inferior a 3 anos.

É improvável que o maior sucesso na espirometria e determinação de sRaw em crianças mais velhas se tenha devido a um efeito de aprendizagem por repetição de realização de provas, já que menos de 10% das PFR correspondem a reavaliações.

Deste modo, a elevada exequibilidade das provas de função respiratória em crianças dos 2 aos 6 anos de idade poderá permitir cada vez mais a sua utilização na avaliação de crianças em idade pré-escolar com patologia respiratória.

Estudos realizados por Borrego et al.11,12 comprovaram a reprodutibilidade destas medições ao longo do tempo, bem como as diferenças funcionais em função do diagnóstico clínico nesta faixa etária, sendo necessários mais estudos no futuro que demonstrem a sua utilidade, particularmente na correlação com a clínica e no seguimento prospetivo destas crianças.

Responsabilidades éticasProteção de pessoas e animais

Os autores declaram que para esta investigação não se realizaram experiências em seres humanos e/ou animais.

Confidencialidade dos dados

Os autores declaram ter seguido os protocolos de seu centro de trabalho acerca da publicação dos dados de pacientes e que todos os pacientes incluídos no estudo receberam informações suficientes e deram o seu consentimento informado por escrito para participar nesse estudo.

Direito à privacidade e consentimento escrito

Os autores declaram que não aparecem dados de pacientes neste artigo.

Conflito de interesses

Os autores declaram não haver conflito de interesses.

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